OBS:

Dedico minhas horas vagas a escrita. Mas a ideia de publicá-las nunca me havia ocorrido.
Assim, dedico essa história a Lorrana e a Patrícia, que me apoiaram, ajudaram e me encorajaram.
-Obrigado

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Capítulo 9 - O Exílio

Saímos pelas ruas sem rumo certo. Tínhamos apenas a luz da lua cheia para nos mostrar o caminho. Caminhamos por horas e mais horas, sem saber ao certo para onde. Era impossível saber o que era norte ou sul, a lua situava-se no ponto mais alto do céu, e não parecia disposta a sair.

Da casa, só pudemos pegar uma faca, que estava na sala onde Michael havia almoçado e as duas armas que nos restaram, já que as outras duas, de Mary e Michael, foram perdidas durante o ataque dos cães infernais.

Tudo o que sabíamos, é que estávamos indo na direção oposta do castelo da qual chegamos, no primeiro dia.

O braço de Michael já estava bom, ele só o mantinha enfaixado para evitar que os pontos abrissem. Kelly já estava mais calma, retomara a rotina aos poucos, já conversava e falava normalmente. Mas ainda recusava-se a comentar sobre o acontecido naquela noite no beco, uma semana antes.

Pelas nossas contas, já se passara umas 5 horas, desde que saímos da casa. 5 horas caminhando na mesma direção, e ainda não víamos mudança na paisagem. As casas eram idênticas as primeiras, igualmente vazias e sem vida. As ruas e praças, tudo parecia igual.

A fome já estava fazendo sua visita, não tínhamos comidas nem água. A casa nos expulsara sem que pudéssemos pegar nada. Mas se não morrêssemos de fome, com certeza morreríamos de frio.

Todos nós estávamos com roupas finas, levando em conta que lá, todos os dias até então, tinham sido quentes. Não esperávamos essa mudança repentina. Nosso corpo tremia involuntariamente, andamos abraçados para tentar amenizar a sensação. Não sei dizer ao certo quantos graus fazia, pois é difícil ter certeza, utilizando apenas a própria pele como termômetro, mas acredito que não estava muito acima de zero.

Mais alguns minutos caminhando e finalmente começamos a perceber uma leve diferença no local. Uma árvore com folhas mais verdes, um jardim um pouco mais arrumado, umas casa menos destruídas que as demais, porém todas estavam trancadas. Eram diferenças sutis, mas que podiam ser percebidas de vez em quando.

Depois, as casas começaram a ficarem mais raras, mais espalhadas. Eram poucas pela rua, os terrenos foram se mostrando vazios à medida que seguíamos.

O frio começou a diminuir. A temperatura começou a subir aos poucos, depois a oscilação parou, a temperatura ficou o mais agradável possível. Como se alguma criança estivesse apenas brincando com o termostato.

Continuamos caminhando, conferindo todas as fechaduras. Nada. Todas as casas estavam trancadas, não havia força para que as portas abrissem. As janelas não possuíam vidros, e estavam igualmente presas. Não havia como entrar.

De repente a cidade acabou, as casas ficaram para trás. Chegamos a um campo irregular, coberto por um capim da altura do joelho. Havia algumas árvores espalhadas, e um rio corria a nossa direita. Mas isso foi tudo o que conseguimos ver, com os olhos imersos naquela escuridão.

Corremos até o rio, estávamos mortos de sede depois de horas caminhando. Bebemos de forma lenta e sem pressa. Fiquei triste em saber que não tínhamos mais nossos cantis, que ficaram na despensa da casa.

Resolvemos voltar para a cidade para procurar por comida, mas era impossível entrar em alguma casa, pareciam trancadas por magia. E o mais estranho era que, quanto mais para dentro da cidade nós íamos, mais frio ficava. Mas não como antes, desta vez era um frio diferente, extremo. Cinco minutos por entre as ruas, o frio ficou tão intenso que parecia difícil até de pensar.

Não havia escolha, tínhamos que voltar para aquele campo. Voltar para próximos do rio, que naquele momento, era a única coisa familiar naquela paisagem.

[...]

A fome nos corroía por dentro. Continuamos a caminhada, agora, seguindo o curso do rio, que se afastava da cidade. Só parávamos para beber água ou descansar por alguns minutos, antes de continuar a jornada.

Durante uma destas pausas, um movimento nos chamou a atenção. Um remexer entre o capim a apenas alguns metros de nós. Com aquela escuridão era impossível apontar onde foi, mas o som havia vindo da esquerda.

Nós deitamos na grama para nos esconder. Fosse o que fosse, não gostaria que nos visse.

Menos de um minuto depois, o som se repetiu, estava mais constante, estava se movendo. Michael levantou a cabeça de leve depois tornou a abaixá-la de vagar. Me lançou um sinal de silêncio, com o indicador sobre os lábios. Arrastou-se até mim com o mínimo de ruído possível. Quando estava bem próximo, pude ver um sorriso em seus lábios.

_Comida. – ele sussurrou para mim. – Não se mexa.

Ele se pôs de joelho e esperou. Esperou. Foi quando eu ouvi mais um farfalhar entre o capim, a uns 3 metros de distancia. Michael levantou-se com rapidez impensável e atacou.

Assim que vi o que ele fez, me levantei rápido para ir ajudá-lo, mas não foi necessário. Dei um passo em sua direção, mas ele já estava voltando. Carregava um enorme coelho, preso pelas orelhas.

15 minutos mais tarde, o animal já estava morto, sem pele e picado. Michael fizera tudo isso sozinho, utilizando apenas a faca que pegamos da casa, e a água do rio para limpar a carne do coelho.

_Como vamos cozinhar isto? – Perguntou Mary para ele.

_Pelo que vejo, não temos escolha. Não há como acender uma fogueira, além de que, mesmo que houvesse, eu não gostaria de chamar a atenção em meio a este lugar. Teremos que comê-lo cru.

Quase vomitei quando ouvi o que ele dizia. As meninas não pareciam melhor. A ideia era repugnante, carne crua, sem nenhum preparo ou tempero. Só de pensar, meu estômago embrulhou mais uma vez.

[...]

Dizem por aí, que a fome é o melhor tempero. Agora acredito que seja verdade. Foi difícil de comer, ainda mais depois de tantas noites de comida quente e gostosa, preparadas por Kelly e Mary. Mas não era tão ruim quanto acreditei de inicio.

Depois de tanto tempo sem comer, aquilo poderia ser um banquete. As garotas também pareceram satisfeitas. O Gosto não era ruim, tínhamos apenas que deixar de lado velhos hábitos.

Não foi como uma refeição, mas serviu para que saciássemos nossa fome. Com a barriga não mais nos incomodando, roncando ou doendo, poderíamos finalmente dormir.o mais nos incomodando, roncando ou doendo, poderíamos finalmente dormir.

Resolvemos descansar ali mesmo, para que pudéssemos ficar próximos a água. Além de que o capim era mais alto, o que nos daria uma vantagem em ficarmos escondidos.

A partir de agora, o céu seria nosso teto e a Lua nossa guardiã.

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"Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem." - Mario Quintana