OBS:

Dedico minhas horas vagas a escrita. Mas a ideia de publicá-las nunca me havia ocorrido.
Assim, dedico essa história a Lorrana e a Patrícia, que me apoiaram, ajudaram e me encorajaram.
-Obrigado

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Capítulo 2 - O Corpo

A forte luz vinda de trás daquela porta nos cegou por um tempo, era quase impossível encara-la diretamente. Nos entreolhamos, todos extremamente assustados. Mesmo assim, era com se disséssemos: “E aí? Vamos?”.

Andamos em direção a porta com a mão fazendo sombra para os olhos. Logo que passamos, a porta se fechou quase que instantaneamente, fazendo um enorme estrondo.

Olhamos em volta, absorvendo cada detalhe. Uma rua como de uma pequena vila, com casas muito bem decoradas, com pinturas novas, e flores em seus jardins. Lembravam-me dos chalés que visitei quando fui à praia com meus pais, no verão passado. Mas agora, isso parecia uma lembrança de um passado muito distante. Avistei uma praça com vários bancos e cheia de árvores, o lugar era simplesmente lindo. Exceto pelo fato de estar completamente deserto. Não havia ninguém, não havia som, simplesmente o nada.

Por mais que as casas estivessem bonitas, arrumadas e com as flores dos jardins bem cuidadas, a impressão que tínhamos era de que ninguém estivera ali por dias, ou talvez nunca alguém estivera.

Depois de andarmos por todas as ruas a procura de alguém, acabamos confirmando o que havíamos pensado. O local estava deserto. Voltamos ao ponto de partida, pois acreditamos que podíamos tê-lo como um marco. Agora, olhando pelo lado de fora, realmente parecia que havíamos saído de um imenso castelo, mas não se engane com o que assistiu quando criança, sobre castelos mágicos e príncipes encantados. Aquilo estava mais para uma Fortaleza (sim, com “F” maiúsculo. Aquela enorme construção negra parecia viva.).

Chequei a porta de uma das casa mais próxima, estava aberta. A primeira que encontramos aberta, até o momento. Fui entrando, ignorando o choramingo da Kelly, dizendo que era errado entrar na casa de outra pessoa dessa forma. 


"Bom, não tem ninguém mesmo”- pensei..

Entramos, era uma casa simples e aconchegante. Uma ampla sala, com 2 sofás de 3 lugares no centro, um de frente para o outro. Na estante ao lado haviam vários livros, revistas e objetos de decoração. Nas prateleiras mais acima, vários porta-retratos, imagens de uma família e suas recordações. Porém, era impossível identificar quem eram. Todos os rostos estavam borrados, como uma fumaça que cobria as feições de cada um.

As paredes dali eram de um azul claro, que dava ao ambiente um ar de calmaria. A cozinha toda arrumada com pratos, talheres, copos e panelas, tudo em seu devido lugar. A geladeira também estava cheia, e Khaled já foi se adiantando pra fazer um sanduíche.


_O que? Esse lugar me deixou com fome. – disse ele com a boca cheia.

Eu me dirigi  até a escada que levava ao andar de cima. Assustei-me ao ver um tênue fio de sangue escorrendo escada abaixo.

_Gente! Acho que vão querer ver isso.

Aproximaram-se todos, menos Khaled, ainda na cozinha com seu sanduíche pela metade.

_Precisamos ir lá investigar! – Falou Michael, mas era possível ver um tom de medo em sua voz.

_Khaled! – Gritei – Fique aqui com as garotas, eu e Michael vamos subir para verificar.

Ele balançou a cabeça em sentido afirmativo, levando o ultimo pedaço de pão à boca.

A escada fazia uma curva para esquerda em meio à subida, e era impossível ver o andar de cima. Subimos nos esgueirando pela parede, bem devagar. O que encontramos lá em cima nos embrulhou o estomago, um corpo.

O homem não parecia de muita idade, mas mesmo assim carregava muitas rugas em seu rosto, marcas de sofrimento e preocupação. Jazia sentado em uma cadeira bem no meio do corredor com um tiro na cabeça, uma arma estava caída a poucos centímetros de distância da dele, um suicídio.

Estava tudo muito ensanguentado, havia respingo de sangue nas paredes, no chão e até mesmo no teto. Cobri o nariz com minha mão, pois o cheiro estava insuportável.

Havia 3 portas ali, uma de cada lado do corredor e outra no fim. Já que estávamos ali, preferimos investigar. Michael deu a volta no corpo e abriu com cuidado a porta da direita, eu entrei logo atrás dele.

Era um quarto feminino, todo pintado de rosa. Mobiliado apenas por 2 camas com lençóis brancos, um criado-mudo entre elas e um guarda-roupa, que constatamos estar vazio.

Seguimos para a da esquerda. Também um quarto, igual ao outro, porém azul e com 3 camas com lençóis (também) brancos. Um guarda-roupa, um criado mudo, nada que já não tivéssemos visto.

Nos entreolhamos, sabíamos exatamente o que se passava, não poderia ser coincidência. Estávamos em cinco, éramos 3 homens e 2 mulheres. Não, realmente não poderia ser coincidência.

Fomos ambos em direção a porta no fim do corredor. Abrimos e encontramos um banheiro completamente limpo e organizado, grande e espaçoso, digno de um hotel de luxo.

Na porta debaixo da pia, havia de tudo. Um estoque dos melhores produtos que alguém possa imaginar. Estava tudo lá, intocado, como que a espera de alguém para usá-los.

Abrimos o espelheiro, dentro, havia mais materiais de higiene. Quando o fechamos, levamos um baita susto, o espelho estava embaçado, mas jurávamos não haver vapor ali, e estávamos longe demais para que nossa respiração pudesse fazer algo. De repente, letras começaram a surgir, como se fossem escritas por um dedo fino e invisível. Uma caligrafia irregular, com letra de forma, cada letra saindo mais tremida que a anterior.

“Aqui não existe piedade
Aqui a lei é sobreviver
Aproveitem a estadia."

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"Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem." - Mario Quintana