OBS:

Dedico minhas horas vagas a escrita. Mas a ideia de publicá-las nunca me havia ocorrido.
Assim, dedico essa história a Lorrana e a Patrícia, que me apoiaram, ajudaram e me encorajaram.
-Obrigado

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Capítulo 11 - Mil Faces.

Disseram-me que fui o ultimo a acordar. Enquanto estive dormindo, Michael e Kelly foram procurar comida. Mary ficou preparando a lenha para tentar acender uma fogueira, mas não obteve êxito.

Quando os dois voltaram da caça, ajudaram Mary a acender o fogo. Fiquei espantado quando disseram que conseguiram usando apenas alguns gravetos e capim seco. Assaram alguns peixes que os dois conseguiram pescar. Só depois da comida pronta, tentaram me acordar, mas perceberam que havia algo de errado comigo. E só depois de muito esforço, Michael conseguiu me despertar.

Bom, essa era a parte deles da histórias, faltava a minha.

Eu mal conseguia falar, ainda estava fraco, sentia como se fosse desmaiar a qualquer segundo. Única coisa que me impedia de cair desacordado era o medo de passar por aquilo de novo.

Comi alguns pedaços de peixe, mastigar a carne me ajudou a recobrar um pouco as energias.

Não havia como saber quantas horas eu dormi, não tendo nem ao menos um Sol como referência. Só sei que dormi muito, muito tempo. Mas a sensação que eu tinha era de que havia corrido 10 maratonas consecutivas. Minha cabeça doía, meus braços e pernas estavam pesados, meu corpo parecia mole e desfalecido. Eu não tinha força nem para pensar. Mas mesmo cansado, com muito esforço, consegui contar-lhes o que aconteceu.

Contei tudo o que achei ser relevante, fazendo pausas apenas para recuperar o fôlego, que ainda me incomodava, e uma hora ou outra para responder perguntas curiosas.

Quando terminei, todos ficaram em silêncio. Eu me sentia tonto, até o ato de falar parecia custar-me os últimos suspiros de vida. Meus músculos pareciam feitos de areia. Respirar doía. A cada inspiração, mais meus pulmões protestavam, faziam um esforço enorme para absorver o mínimo de oxigênio.

O silêncio foi quebrado quando Kelly, que estava ao meu lado virada em direção ao rio, soltou um grito abafado de susto.

Olhei para onde ela apontava. Lá estava ele. Do outro lado do rio, próximo a margem. Apenas cinco metros de distância, uma sombra estava parada olhando para nós. Irreconhecível imersa na escuridão.

Só era possível ver o contorno do corpo pouco iluminado pela lua em contraste com a relva. Era difícil dizer quem poderia ser. Ele não se movia, não fazia ruído algum. Eu nunca o veria, se Kelly não o tivesse denunciado.

A essa altura, todos já estava olhando na direção daquele vulto. Não ousamos falar nada. Só ficamos ali parados. Não sabíamos o que fazer. Muito menos sabíamos se havia algo a ser feito.

O que ocorreu depois foi ainda mais estranho. A sombra sumiu. Desapareceu em um microssegundo. Numa hora ele estava lá, nos encarando, parado como uma estátua à alguns metros. No instante seguinte, não estava mais, desaparecera como se fosse apenas uma obra da nossa imaginação.

_Olá - Disse uma voz aguda atrás de nós.

Todos se levantaram sobressaltados, menos eu, que não tinha forças nem para gritar, muito menos para ficar em pé. Me virei devagar, na medida que era possível vencer a dor em meus músculos. O que vi, foi uma mulher parada a menos de dois metros da gente.

Bom, era impossível afirmar se era realmente uma mulher. Suas feições pareciam ondular sobre a face. Olhar para aquilo me causava enjoo. Seu rosto tremeluzia com o luar, pareciam flashes, e a cada milésimo de segundo, parecia algo diferente.

Acho que todos perceberam o mesmo que eu, pois esfregavam os olhos, como se não pudessem entender direito o que viam. Estávamos estupefatos com aquilo, era hipnotizante.

_Nossa, mas que falta de educação, a de vocês. Tentarei apenas mais uma vez… “OLÁ”?

Sua voz chegou até mim suave, feminina. Porém não há como se concentrar. Tudo parecia ambíguo.

_Quem é você? - Mary perguntou.

_Eu posso ser quem você quiser, meu amor. Não é mesmo, John? - Ela virou-se para mim. Logo as ondulações em seu rosto começaram a parar. Ela tomou uma forma mais definida, seu rosto parou de tremeluzir. Segundos mais tarde, estávamos de frente para uma cópia perfeita de Stefany.

Meus olhos se arregalaram. Agora faz sentido, eu sabia que não era Stefany em meu sonho. Não poderia ser. Mas agora a resposta viera até mim como um soco,

_O que é você? - Perguntei, erguendo minha voz. Até isso era difícil de fazer, no estado em que eu estava. O pequeno esforço de um grito era desgastante. Eu tinha que guardar as energias, se não iria desmaiar.

_S-Succubus! - Michael começou a falar. Deu um passo para trás e ficou parado, em posição de prontidão. - John, ela é… um Succubus.

_Hahaha! Vejo que você fez seu dever de casa, rapaz. - Falou ela, mas sem olhar para ele. - É John, eu sou um Succubus.

Eu ainda estava sem entender. O que é um succubus? Que diferença isso faz? Por que Michael estava tão preocupado assim? Eu não sabia as respostas, mas Michael parecia estar entendendo. Ele começou a balançar a cabeça em sentido afirmativo, bem de leve.

_John - Disse ele. - Succubus são demônios que podem ter qualquer aparência. Eles invadem os sonhos das pessoas para roubar a energia vital. Isso explica seu cansaço.

Ela tomou forma de uma mulher alta, com corpo magro e cabelos loiros. Seria sexy, se não fosse assustador. Ela olhou para Michael com um olhar sedutor e um sorriso sínico. - O que você não sabia, querido, é que não precisamos entrar em um sonho para poder nos alimentar.

Mais rápida do que eu poderia acompanhar com os olhos, a succubus pulou. Ela vinha em minha direção. Minha cabeça girava, meus músculos doíam, eu estava tonto e cansado.

Atordoado, só tive tempo de sentir suas mãos agarrarem meu pescoço. Tentei respirar, mas aquelas mãos bloqueavam a entrada de ar. Meus pulmões arderam e meus braços caíram ao lado do meu corpo. Desmaiei.
"Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem." - Mario Quintana