OBS:

Dedico minhas horas vagas a escrita. Mas a ideia de publicá-las nunca me havia ocorrido.
Assim, dedico essa história a Lorrana e a Patrícia, que me apoiaram, ajudaram e me encorajaram.
-Obrigado

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Capítulo 8 - Noite

Estávamos jantando, ou o mais próximo que se possa chegar disso, estando em um local como aquele.

O dia que se passou foi dividido, basicamente, em cuidar do braço de Michael e da mente de Kelly.

Michael não teve tantas complicações, foi uma mordida forte e com marcas profundas dos dentes afiados daquelas bestas. Porém, eram apenas 4 perfurações na região de seus bíceps. Alguns pontos, água oxigenada para desinfetar, gaze e uma faixa, e logo seu braço estaria como novo.

Já Kelly não teve tanta sorte, sabíamos que, diferente de Michael, esse ferimento não poderia ser curado. Para esse tipo de problema não existe remédio, não há nada que se possa fazer.

Ela passou o dia quieta e sem comer. Ficou deitada em sua cama, sem nada a comentar sobre o que realmente vira, enquanto encarava aqueles olhos negros. Mas acredito que não entenderíamos de qualquer forma.

Quando anoiteceu estávamos exaustos. Acho que nunca estive tão cansado em toda minha vida. Fui direto para minha cama, sem nem me importar com que tipo de pesadelo eu teria esta noite. Tudo o que eu queria era deitar-me reconfortantemente e recarregar minhas energias.

Sonhei com nós quatro em uma planície enorme, coberta de grama verde. Onde o vento era incrivelmente forte e fresco, o Sol brilhava longe, próximo ao horizonte. Era lindo, a primeira vez que me senti tranqüilo desde que cheguei ali.

O Sol estava se pondo, e nós estávamos sentados naquele tapete de grama macia, tudo o que sentíamos naquele momento era paz.

Infelizmente não durou muito. Como tudo o que acontece neste lugar, a sensação de tranqüilidade acabou. O Sol finalmente se pôs, e a noite fria caiu sobre nós.

Não havia estrelas, o vento parou, o frio começou a arrepiar os pêlos dos meus braços. Sentamos-nos de costas uns para os outros, para que pudéssemos ter uma visão melhor da vastidão daquele lugar. Alguma coisa estava extremamente errada com aquele lugar, e não queríamos ser pegos de surpresa novamente.

Tive a sensação de que essa seria a noite mais longa da minha vida. Um clima de medo passou por nós. Aquela breve impressão de que nunca mais veríamos o amanhecer. Nunca quis tanto estar errado, como queria naquele momento.

Acordei com frio, ainda era noite, mas eu sabia que não conseguiria dormir novamente. Levantei, fui até a geladeira, tomei dois copos cheios d’água e depois deitei no sofá da sala. Fiquei ali, olhando para o teto.

Essa era minha rotina, de quando não conseguia dormir. Um pouco de água, deitar no sofá e esperar o Sol nascer.

Mas não foi assim desta vez.

Eu já estava ali deitado a algum tempo. Michael já havia levantado três vezes para comer ou tomar algo, via que ainda estava de noite, e voltava para o quarto.

Algumas horas mais tarde, e o amanhecer não viera.

Todos já estavam de pé e já tinham tomado café da manhã. E o Sol ainda não havia dado as caras.

Fomos para fora ver o que acontecera. O céu estava limpo, nenhum sinal de nuvens ou de estrelas. Somente a lua pairava sobre nós, e não parecia disposta a sair dali.

_Eu já vi isso antes. – Murmurei, enquanto voltávamos para o sofá. – Sonhei com algo parecido.

_E por que não nos contou? – Mary disse, preocupada.

_Ora, Mary, dentre tantos pesadelos?

Ela pareceu entender, concordando com a cabeça.

_O que viu no sonho? – Perguntou Michael.

Contei a eles cada detalhe. Não queria que ficassem com medo, mas eu tinha de contar.

_Ou talvez seja o fuso horário. – Disse Michael, tentando quebrar o silêncio.

_Talvez. – Eu disse desanimado.

E então esperamos.

[...]

Não tínhamos mais como ter noção do tempo. Horas e mais horas se passavam, e tudo permanecia igual. A noite e somente a noite. Apenas a escuridão ao nosso redor.

Conforme o “dia” foi transcorrendo, ia ficando mais frio. Assim como no sonho. Talvez não estivesse mesmo frio, mas era como se tudo estivesse perdendo a vida, como se tudo já tivesse perdido as esperanças. Como se o próprio mundo estivesse esperando a hora de morrer.

Nessa hora, as palavras de Shamus não saíam de nossas cabeças: “Vocês têm medo do escuro?”.

O psicológico parou de funcionar. Era impossível saber quando dormir e quando acordar. Tínhamos que revezar as horas de sono, alguém sempre deveria ficar acordado vigiando. Não tinha como se manter naquelas condições.

A casa pareceu sofrer as influencias também. Estava ficando cada vez mais raro os momentos em que ela nos atendia. Ao contrário, agora a casa parecia brincar conosco. Quando queríamos dormir, as portas dos quartos simplesmente estavam trancadas. Quando precisávamos comer, a geladeira simplesmente não abria.

Parecia estar nos regulando. Comíamos quando ela queria, dormíamos quando ela deixava. Quando fomos procurar por lanternas, para nos mantermos na escuridão, tudo o que recebemos foram 4 velas enormes, uma para cada um de nós.

Tentamos separar comida. Aproveitamos uma hora em que a geladeira estava aberta e retiramos dela quase tudo o que podíamos, e que não estragava. Achamos que seria a solução, mas toda vez que abríamos uma embalagem de comida extra, ela estava vazia. Não importava o quão pesado o pacote estivesse. Quando abríamos, só continha vento.

O jeito foi aceitar as condições, e nos dobrarmos à vontade da casa.

Alguns dias depois, impossível dizer quantos, nossas velas se acabaram. No mesmo instante em que a ultima vela chegou ao fim, a casa se fechou.

Fechou-se por completo, quartos, banheiro, cozinha, sala, tudo. Ficamos imersos na total escuridão.

A única porta que se mantinha aberta era a da saída. Ok, já entendemos o recado.

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"Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem." - Mario Quintana