OBS:

Dedico minhas horas vagas a escrita. Mas a ideia de publicá-las nunca me havia ocorrido.
Assim, dedico essa história a Lorrana e a Patrícia, que me apoiaram, ajudaram e me encorajaram.
-Obrigado

sábado, 30 de novembro de 2013

Capítulo 10 - A Dama.

Enquanto meu corpo descansava, minha mente não parava de trabalhar, me trazendo uma vastidão de sonhos e pesadelos, da qual eu não podia me defender. Sonhei com Khaled, ensanguentado e sem vida, deitado naquela cama.

Depois a cena mudou, eu era um espectador, flutuando nos fundos do chalé. Vi eu e Michael cavando o enorme buraco da sepultura. As meninas às nossas costas choravam. O corpo, enrolado em lençol branco, esperava pacientemente que seu novo lar estivesse pronta. Seu último lar.

Assisti novamente, tudo o que havia se passado conosco. Uma retrospectiva assustadora, com todos os medos que enfrentei neste lugar. Eu os sentia novamente, senti um arrepio quando vi, novamente, Shamus em nossa sala de estar, exatamente como da primeira vez.

Era como se todo aquele pavor, medo e pânico que senti, não fossem suficientes, e eles voltassem, mais uma vez, para me lembrar de tudo. Tudo o que eu gostaria de esquecer. Tudo o que eu gostaria de que nunca tivesse lembrado. Muito menos vivido.

Eu não estava só “assistindo” novamente. Eu estava vivendo tudo aquilo mais uma vez. Todo sentimento, a dor, o cansaço, o pânico. Tudo. Tudo estava de volta, até mesmo a sensação de impotência, ao ver Kelly sendo atacada por aquele lobo enorme.

Esta cena não saia da minha cabeça já havia dias. A culpa me atormentava, quando ela realmente precisou de mim, eu não pude fazer nada.

E se algo tivesse acontecido? E se Mary não tivesse chegado a tempo? Kelly estaria morta, tudo por culpa minha.

Não era apenas esta vez. Enquanto Shamus a torturava, naquela mesma maldita noite, o que eu fiz? Nada! Fiquei parado, apenas assistindo minha amiga sofrer.

É tudo culpa minha, se não fosse por mim, hoje Kelly não estaria tão reclusa, talvez eu tivesse salvado Khaled, eu poderia ter ajudado. Eu poderia ter feito alguma coisa.

Esses pensamentos não paravam de me ocorrer, eu me torturava com a ideia de que meus amigos morreram, e eu sequer pude socorrê-los.

Mas de repente, todos os sonhos cessaram. Tudo ficou preto em minha mente. Estava ainda mais nítido, ainda mais assustador, ainda mais real. Como se não estivesse sonhando, mas vivenciando. A escuridão era absoluta. Uma voz ressoou pelo vazio.

_Venha para mim, John.

Era uma voz feminina. Calma e sensual. Era suave, aparentava leveza. Eu reconheceria esta voz em qualquer lugar.

_Stefany, é você? - Perguntei, sem conseguir acreditar nos meus ouvidos. - Stefany, onde você está?

_Bem aqui - Ela disse às minhas costas, com a voz mais doce que eu já ouvi.

Virei-me, lá estava ela, deslumbrante, em um vestido vermelho, que chegava a seus joelhos. De tecido leve, o vestido parecia fazê-la voar. Era como se flutuasse, como se estivesse em todos os lugares, e ao mesmo tempo, em lugar nenhum.

Tinha cabelos castanhos, ondulados por cima de seu ombro. Sua pele era branca e seus olhos… Ah, os seus olhos verdes como esmeralda, pareciam me chamar, me atrair para perto.

E lá estava ela, exatamente como me lembrava de tê-la visto pela ultima vez, quando saímos juntos. Deslumbrante, maravilhosa, divina.

_Eu estava com saudades. - Ela falou com um tom triste em sua voz. - Você não voltou. Você prometeu que voltaria.

Nesta hora eu já não conseguia pensar de forma clara. Eu me esquecera de tudo. Só queria saber de continuar olhando para aqueles magníficos olhos.

_Eu também estou com saudades, meu amor. Eu não sei o que aconteceu. Tudo o que eu queria era voltar, mas não pude.

_Isso não importa mais, eu estou aqui agora.

É verdade. Ela estava. Estava bem ali, diante de meus olhos. Eu sentia seu cheiro, conseguia sentir sua aura de beleza se espalhando por toda aquela vastidão negra, como se a iluminasse. E de fato, estava iluminando.

Dela irradiava uma luz, que iluminou o local de forma lenta. Estávamos num quarto, no quarto da nossa primeira vez. Eu lembrei daquela noite. Estávamos bêbados depois da festa, ela me trouxe até aquele local... Minha vida mudou completamente.

_Nós podemos recriar aquela noite, John. Não é isso que você quer?

_Sim… eu quero… - respondi lentamente, dando um passo involuntário em sua direção.

_Podemos vivenciar tudo aquilo novamente. Basta você querer, meu amor.

Sua voz era suave e doce, calma e mesmo assim penetrante. Me atraia, era irresistível. Dei mais dois passos rápidos e parei a sua frente. Estava cara-a-cara com ela. Podia sentir sua respiração, seu calor.

Ela tocou meu braço de leve. Eu não conseguia controlar meu corpo. Ela me arrastava em direção a cama. Eu não conseguia me conter. Eu não queria me conter.

[...]

Seu corpo era quente, exatamente como eu me lembrava. Sua pele era sedosa, e seus lábios macios. Seu beijo me tirava o fôlego. Me deixava ofegante.

Não era assim que eu me lembrava.

A cada beijo, eu me sentia mais cansado. Eu comecei a me sentir tonto e sem forças.

_Não… eu não consigo…

_Esqueça isso, amor. Eu estou aqui. - Ela sussurrava em meu ouvido. Ok. Se Stefany estava comigo, nada mais importava. Nem mesmo uma tontura repentina.

Mas foi ficando pior do que o esperado. Eu não conseguia levantar os braços. O ar escapava de meus pulmões a cada pequeno esforço. Eu não conseguia pensar direito. Meu cérebro estava funcionando de maneira lenta.

A cada beijo eu sentia minha vida se esvaindo. O pouco de energia que me restava, era o suficiente apenas para me manter vivo. Mas não por muito tempo.

De alguma forma eu soube que não era Stefany. Eu queria gritar, mas não conseguia. Eu não tinha forças nem para me manter acordado.

ACORDADO!

Era isso, eu ainda estava dormindo, isso era um sonho. Mas por que se parecia tão real? Por que eu sentia como se minha vida estivesse se esvaindo de verdade?

Eu precisava acordar, mas não sabia como. Aquela coisa, que fingia ser Stefany, estava deitada sobre mim. Com seu rosto pairando sobre o meu, beijando-me sem parar. E eu não conseguia desviar o rosto. Eu não conseguia me esquivar. Era como se eu fosse uma estátua deitada. Meu corpo não respondia a nenhum comando. Simplesmente fechei os olhos.

_John, acorda. - Uma voz ecoou em minha cabeça.

Minha cabeça girava. Eu não sabia o que fazer, eu precisava acordar.

_John, me escuta! Acorda! Acordaaaa!

Agora estava mais alta e compreensível. A voz dele estava mais clara em minha mente.

Acorde! Acorde! Acorde John, por favor!

Senti duas mãos em meus ombros me agarrando forte. Me chacoalharam com brutalidade. Eu não tinha forças para falar. Tentei mover os braços, mas estes não respondiam como deveriam. Tudo o que pude fazer foi abrir os olhos, bem devagar.

Eu estava sentado de costas para uma arvore, estava suado e todos meus músculos doíam. Minha consciência foi voltando aos poucos.

Minha visão tomou foco. Um rosto estava parado a poucos centímetros de mim. Quase gritei. Será a “falsa Stéfany”?

Meus olhos se encheram de medo. Mas quando encarei mais uma vez, meus músculos relaxaram.

_Finalmente acordou. Achei que morreria. Você está bem?

A enxurrada de perguntas vinha de Michael.

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"Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem." - Mario Quintana