OBS:

Dedico minhas horas vagas a escrita. Mas a ideia de publicá-las nunca me havia ocorrido.
Assim, dedico essa história a Lorrana e a Patrícia, que me apoiaram, ajudaram e me encorajaram.
-Obrigado

domingo, 17 de novembro de 2013

Capítulo 1 - O Desconhecido

Meu nome é John, tenho 20 anos. Mas não levo uma vida que se possa chamar de normal. Não depois daquele dia...

Tive uma noite difícil, mal conseguia pegar no sono. Passei horas a fio pensando na vida, dentre outras coisas, pensando no que havia feito no passado e que hoje me custam um alto preço. Mas com grande apreço, e depois de muitas horas adormeci.


Já de manhã, abri os olhos, e não pude acreditar no que via. Eu não estava em minha casa!


Olhei em volta assustado, era um quarto, iluminado apenas por uma pequena janela no alto. Havia uma cômoda no canto, com um pequeno abajur em cima, além da cama de casal, da qual estive dormindo. Fora isso, estava tudo parado, vazio e sem vida.


Levantei devagar, tudo parecia lento, as paredes eram de pedra, o piso de cimento bruto estava gelado. Tinha grades na janela e a imensa porta de madeira escura estava trancada.


Fui em direção ao abajur. Quando o peguei e o olhei de perto, não sei se estava louco, mais posso jurar que vi rostos, com medo, gritando em desespero, e o mais estranho, eu não conseguia ver seus olhos. E quanto mais prestava atenção, mais familiares me pareciam.


Vasculhei as gavetas da cômoda, procurando algo. Estavam vazias, com exceção da última, onde tinha uma chave prata, enorme, de um formato que me parecia único, com uma caveira incrustada no cabo. Peguei-a, e vi que havia um bilhete colado atrás, onde pude ler: “Seja bem vindo ao seu pior PESADELO".


Pude sentir a cor deixando meu rosto, um frio subiu por minha espinha, e um arrepio percorreu todo meu corpo. Então é isso? É assim que se sente quando se está com medo?


Olhei para a porta, parecia-me sobrenatural, uma madeira escura como chumbo, e exalava um sentimento de solidão, uma solidão fria, que eu podia sentir só de encará-la. Coloquei aquela chave na fechadura, e no mesmo instante, girou sozinha, como por mágica.


A porta se abriu sem barulho, dava para uma escadaria, que descia tão longe que meus olhos não puderam ver onde acabava. Fui descendo, e conforme percorria o caminho frio e úmido, observei que na parede, quadros se formavam com molduras ensanguentadas.


Logo fui reconhecendo as imagens, era eu, estava vendo cenas de minha vida, os primeiros quadros, de quando ainda bebê, e depois de minha infância e aumentando gradativamente. Todas, de coisas ruins, coisas que fiz, ou até mesmo, de coisas que queria ou pensei em fazer. O meu choque era ver, que em todas as imagens, eu também não podia ver meus olhos, no lugar, somente órbitas negras e vazias. Olhares de quem não aparentava querer viver.


Eu não podia tirar os olhos daqueles quadros, eles me chamavam, me puxavam como imãs atraem o ferro. Pareciam me desafiar, pareciam querer lembrar-me de todos os momentos, que passei a vida tentando esquecer.


15 minutos descendo, assustado, e chorando. Finalmente cheguei ao fim, encontrei uma porta de madeira negra, igualmente assustadora como a do quarto, ela se abriu logo que me aproximei.


Atrás de mim, a porta se fechou, levei uns segundos para me acostumar à luminosidade intensa do lugar. Um salão totalmente branco, e enorme. Lá eu pude ver 4 pessoas, 2 mulheres, e 2 homens. Todos pareciam de lugares diferentes, uma tinha ares orientais, outro, identifiquei como muçulmano. A outra mulher e o homem - que era um pouco mais gordo que os demais - se pareciam como eu, porem muito mais brancos, o que me levou a crer que eram de locais ao norte.


O salão era redondo, com 6 portas, 5 como a de que acabei de sair, provavelmente, uma para cada um de nós. E uma porta dupla à frente, tão grande que precisei olhar para cima para ver onde acabava. 15 metros, no mínimo, eu pensei. Me lembrava aquelas grandes portas de entrada de castelos medievais.


Todos me olharam surpresos quando cheguei. Pude ouvir um cochicho de “finalmente”.


_Olá – eu disse meio que com vergonha, e com os olhos ainda lacrimejando depois de tudo que vi naqueles malditos quadros.


_ Oi – foram respondendo um a um.


_ Como se chama? – Perguntou a moça oriental.


_ John – respondi. – Onde estou?


Percebi que desviaram o olhar, eles também não sabiam a resposta. Uns olharam para o chão, com a cara fechada e triste, outros balançaram a cabeça, vi que ninguém aqui fazia ideia de como vieram parar nesse lugar.


Logo, foram se apresentando de um por um.


_ Sou Khaled – disse o homem que acreditei ser muçulmano.


_ Kelly – falou a oriental.


_ Me chamo Michael – disse o mais gordinho, e por sinal, mais velho dentre todos.


_ Mary – disse a ultima com um sotaque que pude reconhecer facilmente. Ela percebeu que prestei atenção, e completou – Sou Francesa.


Começamos a conversar, sentados ali mesmo, no chão. Todos partilhamos da mesma história: “simplesmente acordei aqui, encontrei uma chave, passei por uma escadaria horrível, e acabei nesse lugar”.


Já havia se passado mais ou menos 1 hora, e começamos a ficar preocupados em como sair deste lugar, e por mais que tentássemos, não importava o quanto empurrávamos aquela enorme porta não abria.


_O jeito é sentar e esperar. – falou Michael cansado, depois de empurrar e esmurrar em vão à porta.


_Não podemos ficar aqui parados! – Falei já com a raiva subindo à cabeça. – Temos que achar um jeito de sair daqui. E pra começar, quem que te disse que você é o líder?


_ Eu fui o primeiro a chegar aqui garoto, e sou mais velho que todos vocês.


_ Mas me parece bem mais burro que todos nós também! Não está entendendo a gravidade da situação? Aposto que nem percebeu que não estamos falando a mesma língua...


Michael se fez em um ar de susto, depois olhou para o lado como se estivesse pensando.


_ ... Você é de onde mesmo? - perguntei


_EUA.


_...Bom, eu sou brasileiro, Mary é francesa, Khaled é turco...


_ Na verdade, sou libanês. – disse ele interrompendo.


_Dá no mesmo... Bom, Kelly é...?


_Coreana - completou ela.


_...Você já parou para pensar como estamos nos entendendo tão bem?


Michael fez menção de responder, mais antes que ele pudesse dizer algo, a imensa porta dupla se abriu com um rangido.

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"Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem." - Mario Quintana